A intolerância religiosa e o preconceito chocaram a comunidade de Abrantes, em Camaçari, após um incidente grave envolvendo uma professora da rede municipal. Sueli Santana, de 51 anos, foi vítima de agressões físicas e verbais dentro da escola onde trabalha, simplesmente por ensinar cultura afro-brasileira.
O caso ocorreu em 29 de outubro, na Escola Rural Boa União, e só foi registrado oficialmente pela Polícia Civil no dia 19 de novembro. A professora relatou ter sido atingida por uma pedra no pescoço, lançada por três alunos enquanto corrigia atividades durante a aula. As consequências do ataque deixaram Sueli afastada do trabalho por três dias para se recuperar.
Sueli, que é praticante de uma religião de matriz africana, contou que as agressões verbais eram frequentes. “Era chamada de bruxa, macumbeira, feiticeira e diabólica todos os dias”, revelou à TV Bahia. A hostilidade diária culminou no ataque com pedras, mas a violência verbal, segundo ela, já era um sofrimento constante.
A educadora acredita que o preconceito contra sua crença religiosa foi intensificado pelas aulas de cultura afro-brasileira, obrigatórias nas escolas públicas e privadas desde 2003, com a Lei 10.639/03. Essa legislação busca promover o conhecimento sobre a história e as contribuições da população negra na formação da sociedade brasileira, além de combater a discriminação racial.
Embora a lei tenha completado 20 anos, o caso de Sueli mostra que a inclusão de conteúdos voltados à valorização da cultura afro ainda enfrenta resistência.
O Papel da Educação na Promoção da Tolerância
O ensino da cultura afro-brasileira é um passo fundamental para a formação de cidadãos conscientes e respeitosos. A Lei 10.639/03 exige que as escolas trabalhem temas como a história da África, a luta contra o racismo e a importância da diversidade cultural no Brasil.
Neste ano, pela primeira vez, o Dia Nacional da Consciência Negra foi comemorado como feriado em todo o país, reforçando a importância do tema na agenda escolar. Porém, casos como o de Sueli evidenciam que ainda há um longo caminho para que a educação seja efetivamente uma ferramenta de combate ao preconceito.
Medidas Tomadas e Posicionamento da Secretaria
A Secretaria de Educação de Camaçari (Seduc) emitiu uma nota lamentando o ocorrido e garantindo apoio à professora e à comunidade escolar. “A Seduc reitera seu compromisso com a valorização da diversidade e do respeito às diferenças, sejam elas relacionadas a crenças, gênero ou cor, repudiando qualquer forma de discriminação”, afirmou a pasta.
A secretaria informou que está investigando o caso para entender os motivos e as circunstâncias das agressões. Além disso, medidas de acolhimento foram implementadas para apoiar Sueli, os alunos envolvidos e suas famílias.
O episódio chama a atenção para a importância de ações educativas que promovam o respeito às diferenças e combatam o preconceito. Especialistas em educação e direitos humanos destacam que iniciativas como palestras, rodas de conversa e projetos culturais podem ajudar a reduzir a intolerância nas escolas.
Casos como o de Sueli mostram que a luta contra o racismo e a intolerância religiosa não é apenas uma questão de legislação, mas também de conscientização. É necessário que a sociedade, as famílias e as instituições de ensino trabalhem juntas para construir ambientes mais acolhedores e respeitosos.
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