O caso gerou debate sobre a ausência do Estado e a violência na região.
O caso gerou debate sobre a ausência do Estado e a violência na região.

Na última segunda-feira à noite (07/04), moradores de Monte Gordo, distrito do litoral de Camaçari (BA), viveram momentos de tensão e revolta com uma cena que viralizou nas redes sociais e deixou muita gente perplexa. Dois homens, suspeitos de cometer uma série de furtos na região, foram pegos por traficantes locais e passaram por uma espécie de “castigo” violento, que foi todo gravado e espalhado na internet.

As imagens mostram claramente os dois suspeitos com os braços e as mãos amarradas. Em seguida, eles aparecem sendo agredidos com pedaços de madeira, recebendo golpes duros enquanto estão imobilizados. Em determinado momento do vídeo, é possível ver que os dois são obrigados a pedir desculpas à população por tudo que fizeram. O caso chegou rapidamente ao portal Informe Baiano, e de lá se espalhou feito rastilho de pólvora pelos grupos de WhatsApp, Facebook e Instagram.

Para muita gente da comunidade, esses dois homens já eram conhecidos por atos criminosos. Moradores relataram que os furtos vinham acontecendo com frequência, e a população estava cansada de viver com medo. Vários relatos apontam que eles estavam “passando do limite”, invadindo casas, comércios e até mesmo roubando objetos de quem passava na rua.

A situação em Monte Gordo tem se agravado nos últimos anos, com aumento da violência e pouca presença policial nas ruas. Isso tem gerado uma espécie de “justiça paralela”, em que grupos criminosos acabam assumindo o papel que seria do Estado. No caso dos dois homens punidos, os próprios traficantes da região se colocaram como “juízes”, capturando e punindo os acusados diante da população.

O mais preocupante é que, mesmo com a brutalidade da cena e o alvoroço nas redes, a Polícia Militar não foi acionada até o momento da divulgação. Também não há nenhuma informação oficial sobre qualquer investigação a respeito da agressão. O silêncio das autoridades reforça a sensação de abandono que muitos moradores têm relatado nos últimos tempos.

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O que mais assusta nesse tipo de acontecimento é a falta de presença do Estado. Em regiões como Monte Gordo, onde o policiamento é quase inexistente e as condições de vida são difíceis, grupos criminosos se aproveitam para mandar e desmandar, impondo leis próprias, como se fossem os verdadeiros governantes da área.

Isso é um retrato claro do quanto a segurança pública ainda é falha em muitas partes do Brasil. Enquanto o Estado se mostra ausente, o tráfico cresce, se organiza e passa a controlar comunidades inteiras, criando uma espécie de “poder paralelo”. Nessas áreas, moradores vivem acuados, muitas vezes com medo tanto dos criminosos quanto das forças policiais.

E quando esses grupos se tornam os “justiceiros”, o cenário fica ainda mais perigoso. A violência vira regra, o medo domina o cotidiano, e a população acaba se acostumando com um sistema que, no fundo, só traz mais sofrimento e insegurança.

Esse tipo de situação também alimenta um ciclo de violência difícil de quebrar. Os dois homens agredidos, mesmo que realmente culpados por furtos, agora viraram vítimas de uma agressão gravíssima. Eles podem até sair da situação revoltados, e com mais raiva da sociedade. E o que acontece depois? Sem punição oficial, sem justiça formal, eles podem voltar para as ruas e seguir cometendo crimes — ou até buscar vingança contra quem os espancou.

Além disso, quem garante que os próximos a serem punidos por esses grupos vão realmente ser culpados? Em um sistema sem lei, qualquer um pode ser julgado e condenado sem provas, sem defesa, e isso pode gerar consequências ainda mais graves.

Monte Gordo, que é um dos principais distritos do litoral de Camaçari, atrai muitos turistas por suas praias bonitas e tranquilidade. Mas, nos bastidores, a realidade tem sido bem diferente. A falta de investimento em segurança, saúde e educação tem deixado a comunidade vulnerável e esquecida.

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Moradores relatam que há tempos pedem mais policiamento, rondas mais frequentes e ações sociais que ajudem a tirar os jovens do caminho do crime. Mas o que se vê, na prática, é o oposto: o tráfico crescendo, as famílias acuadas e cenas como a dessa semana ganhando destaque, não pelo turismo ou pelas belezas naturais da região, mas pela violência que já se tornou rotina.

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