Três meses após a morte de Gilson Jardas de Jesus Santos, de 18 anos, e Luan Henrique Rocha de Souza, de 20, a versão oficial da Polícia Militar sobre a operação em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, está sendo colocada em dúvida. Novas informações levantadas pela investigação apontam inconsistências nos relatos dos policiais e indícios de que os disparos teriam acontecido dentro da casa das vítimas.
De acordo com o registro da 59ª Companhia Independente da PM (CIPM/Abrantes), os jovens teriam reagido à abordagem policial e atirado contra a guarnição, o que teria motivado o revide. Ainda segundo a corporação, foram apreendidas duas pistolas calibre .40, uma espingarda calibre 12 e uma réplica de pistola no local.
No entanto, familiares e testemunhas contestam a versão apresentada. “Eles não estavam armados, foram executados dentro de casa”, declarou Silvânia, mãe de Gilson. Moradores da região relataram ter visto os policiais ordenarem que os rapazes entrassem no imóvel e, pouco depois, ouviram vários disparos vindos de dentro da residência.
O inquérito revela que a viatura da PM permaneceu parada em frente à casa por cerca de 27 minutos, entre 13h56 e 14h23. A perícia constatou marcas de sangue no sofá e um buraco de bala na parede atrás do móvel, evidenciando que os tiros foram disparados de dentro do imóvel. Além disso, não havia marcas de tiros externos, o que contradiz a alegação de troca de tiros feita pelos agentes.
Outro ponto que levanta suspeitas é o resultado da perícia nas mãos dos jovens, que não apresentou vestígios de pólvora, e o fato de a viatura policial não ter danos provocados por projéteis. Para o perito Eduardo Lanos, presidente da Seweell Criminalística (Secrim), isso reforça a tese de que não houve confronto. “Em situações de troca de tiros, sempre são encontrados vestígios nas mãos, roupas, paredes ou portas”, explicou.
O especialista também destacou que os ferimentos observados nas vítimas indicam tentativa de defesa. Gilson foi atingido no peito, enquanto Luan recebeu um disparo que atravessou o braço esquerdo e atingiu o coração. “Esse tipo de ferimento é compatível com uma postura de proteção, como se a vítima tentasse se defender”, acrescentou o perito.
As famílias seguem cobrando respostas e justiça, alegando que os jovens foram mortos de forma injusta e que o caso não pode cair no esquecimento. O Ministério Público acompanha o caso, e a Corregedoria da PM deve analisar os novos elementos apresentados pela perícia.
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