O MPT cobra R$ 257 milhões em indenizações.
O MPT cobra R$ 257 milhões em indenizações.

A tão esperada fábrica da montadora chinesa BYD (Build Your Dreams), que está sendo construída em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, teve seu cronograma drasticamente alterado. A previsão era de que os primeiros carros já estivessem sendo fabricados ainda neste ano, em 2025, mas denúncias de condições de trabalho parecidas com escravidão provocaram um atraso significativo nas obras.

Agora, o novo prazo para a fábrica funcionar plenamente é só em 2026. A informação foi confirmada pelo secretário estadual do Trabalho da Bahia, Augusto Vasconcelos, após uma reunião com representantes da empresa.

Mesmo com o atraso, a empresa ainda pretende iniciar algum tipo de produção em 2025, porém de forma limitada. Segundo o secretário, será um modelo provisório, com a montagem dos carros a partir de peças que já chegam quase prontas da China. Esse tipo de produção, chamada de “CKD”, é mais rápida, mas emprega menos gente.

“É como montar um quebra-cabeça onde as peças já vêm quase todas encaixadas. Isso facilita o processo, mas infelizmente também reduz o número de empregos diretos no início”, explicou Vasconcelos.

A expectativa é que essa fase inicial de produção gere cerca de 1 mil empregos, número bem abaixo do prometido pela empresa, que divulgou a criação de 20 mil postos de trabalho quando o projeto foi anunciado.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari ficou em alerta após a informação de que a produção começará de forma limitada. A preocupação é que a unidade baiana acabe virando apenas uma montadora simples ou um centro de distribuição de peças, sem realmente fabricar os carros no Brasil.

Em resposta, a BYD afirmou que isso não vai acontecer. Em nota oficial, a empresa garantiu que a planta em Camaçari será uma fábrica completa e que a fase de montagem com peças pré-prontas é apenas temporária, até que todas as instalações estejam prontas.

Leia Também:  Prefeitura e MP-BA Fecham Acordo para Melhorar Transporte Público em Camaçari

O principal motivo do atraso foi uma série de denúncias feitas no final do ano passado. Em dezembro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) realizou uma operação e encontrou 163 trabalhadores chineses vivendo em condições degradantes, comparadas a trabalho escravo. Eles foram resgatados imediatamente.

A empresa responsável por essas obras foi contratada pela BYD para tocar parte da construção, mas após a investigação, o contrato foi rompido. Isso gerou uma nova etapa de contratação e reorganização, o que acabou atrasando todo o projeto.

“O contrato com a empresa foi cancelado, e isso exigiu uma nova licitação e contratação de outra empresa. Esse processo levou tempo e por isso a obra não avançou como o esperado”, declarou Augusto Vasconcelos.

Apesar das dificuldades, a BYD não desistiu do projeto. O investimento na fábrica continua sendo um dos maiores já feitos no setor automobilístico da Bahia: R$ 5,5 bilhões. A unidade terá capacidade para produzir até 150 mil veículos por ano, quando estiver funcionando por completo.

A empresa também reafirmou seu compromisso com o Brasil e com o estado da Bahia. Eles informaram que, com o avanço das obras, os modelos mais vendidos no país começarão a ser nacionalizados, ou seja, produzidos em solo baiano.

O governo da Bahia está de olho nas oportunidades que essa fábrica pode gerar para os moradores do estado. O objetivo é garantir que a maioria dos empregos seja ocupada por baianos e baianas, principalmente nas áreas operacionais, técnicas e de engenharia.

Para isso, foi criada uma parceria entre o Governo do Estado e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que está oferecendo cursos gratuitos para capacitar profissionais da região. Mais de 150 vagas já foram abertas e a ideia é expandir ainda mais.

Leia Também:  Anatel apreende 56 mil produtos de telecomunicações irregulares em Camaçari

“Queremos que o povo baiano esteja preparado para ocupar esses cargos. Claro que trabalhadores de outros países são bem-vindos, mas a prioridade é nossa gente. A fábrica tem que ser uma oportunidade de verdade para quem vive aqui”, enfatizou Vasconcelos.

Mesmo com o atraso, o projeto da BYD ainda é visto com otimismo por autoridades e lideranças locais. A expectativa é que, após esse início mais lento e com produção reduzida, a fábrica ganhe ritmo e se torne uma das maiores empregadoras da região.

Com 20 mil empregos previstos, a unidade da BYD tem tudo para movimentar a economia de Camaçari e das cidades vizinhas. Ainda assim, o caso serve de alerta para que o desenvolvimento industrial ocorra com respeito aos direitos trabalhistas e com atenção à dignidade das pessoas.

As autoridades seguem monitorando de perto o andamento das obras e a atuação das empresas envolvidas para garantir que episódios como os que aconteceram em 2023 não voltem a se repetir.

DEIXE O SEU COMENTÁRIO